​A autoavaliação como estratégia de desenvolvimento

A estratégia de autoavaliação de uma organização é um indicador fiável da forma como a “organização” se pensa e se projeta no futuro. A autoavaliação, apesar de normalmente ser coordenada por uma equipa específica, envolve todos e cada um dos que trabalham e usufruem dos serviços e das instalações de cada agrupamento de escolas ou escola não agrupada (AE/ENA). Assim, é natural que nas atividades relacionadas com os processos de autoavaliação, sejam envolvidos os alunos, os pais/EE dos alunos, os docentes e não docentes, para além de representantes das parcerias e colaborações externas que agregamos à volta do Projeto Educativo (PE), tais como empresas, associações locais, entidades de segurança e saúde, entre outros (que habitualmente designamos por stakeholders).

A opção de uma organização quando decide pela implementação de um modelo ou estratégia de autoavaliação, deve estar associada a uma estratégia de comunicação que clarifique (para toda a comunidade educativa) a importância dessa decisão e apele à participação responsável de todos, não apenas por uma questão de cidadania e espírito democrático salutar, mas também porque é importante todos serem ouvidos para a efetiva melhoria das organizações. A autoavaliação é a “forma de estar” das organizações que refletem sobre o seu propósito e impacto das suas ações.

No centro dos processos de melhoria e de comprometimento com a Qualidade, está o chamado ciclo PDCA (P- Planear/Plan; D- Executar/Do; C- Rever/Check; e A- Ajustar/Act), ou ciclo da Qualidade. É a aplicação contínua, sistemática, estruturada, do ciclo PDCA em todas as áreas da organização, que garante o empenho do AE/ENA na melhoria contínua dos seus serviços e do seu desempenho. O adoção do ciclo PDCA é o garante de que tudo o que se faz na organização segue a sequência: Planear (existe um plano de desenvolvimento para o que se faz), Executar (são mobilizadas equipas, definidas responsabilidades e metas, tempos de execução), Rever (é feita a continua monitorização das ações, acompanhando os indicadores definidos e permitindo a revisão/alteração das atividades sempre que necessário) e, finalmente, Ajustar (face às conclusões tiradas sobre a ação e os seus resultados, decide-se pela manutenção ou não da prática, comparando-nos com outras organizações e, eventualmente, preparar uma ação sequencial ou a sua replicação).

Naturalmente que a boa implementação do ciclo PDCA necessita de rigor (que, por vezes e erroneamente, ainda se confunde com burocracia) e é, de alguma forma, complexo (o que não é incompatível com clareza de procedimentos e definição de responsabilidades). Esse rigor e essa complexidade são geridos pela constância de propósitos (queremos tornar a nossa escola uma melhor organização, com serviços de melhor qualidade) e de um verdadeiro compromisso com a Qualidade (com o envolvimento de todos nas diferentes fases da estratégia de autoavaliação).

A autoavaliação, assim, é entendida como uma estratégia fundamental, com objetivos comuns, partilhados por todos dentro da organização. Nesse sentido, é capital o envolvimento da Direção e dos Coordenadores de Departamento para que esta cultura de Qualidade e de rigor esteja sempre presente no momento da execução das tarefas e da necessária exibição de evidências do cumprimento das ações e da avaliação do seu impacto.

Os desafios que os AE/ENA atualmente enfrentam necessitam dessa postura na autoavaliação. O uso das TIC na sala de aula, as estratégias de avaliação para as aprendizagens (projeto MAIA), a formação que visa prepara os colaboradores docentes e não docentes para o cumprimento do PE, são demasiado importantes para ficarmos apenas pela sua análise superficial. A definição de metas bem construídas é fundamental, também para que seja possível uma boa monitorização e avaliação (da execução e do impacto). Modelos como a CAF Educação ou o quadro de referência EQAVET, mobilizam um conjunto de ações e instrumentos que sustentam, num projeto de autoavaliação, a clareza das ações a desenvolver, a boa definição de metas e objetivos a atingir, a possibilidade de uma monitorização eficaz e a capacidade de se fazer uma avaliação transparente, na medida em que todos os passos ficam eficazmente definidos.

A reflexão feita ao longo do processo de autoavaliação de uma organização escolar contribui para, indubitavelmente, se acordar sobre quais os indicadores fundamentais do seu PE e quais a escola, numa estratégia de responsabilidade social e transparência, pretende dar conta à comunidade, apresentando a sua evolução ao longo do tempo (últimos 4, 5 anos, por exemplo). Para a definição estes indicadores, e a título de exemplo, muito poderão contribuir as várias dimensões da vertente humanista da Educação (presente em todos os documentos e legislação oficiais), os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e o incontornável Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO), para além das habituais dimensões de sucesso na escolarização dos alunos.

Trata-se, ao fim ao cabo, de usar a autoavaliação para promover a mudança do AE/ENA em direção a comportamentos e ações que sustentem o cumprimento dos objetivos do PE e a melhoria contínua do serviço prestado pela organização escolar, ou seja, o seu desenvolvimento organizacional, técnico, pedagógico e humano.

​A autoavaliação como estratégia de desenvolvimento